Banco de Ônibus!

 Ouvia-se de longe um senhor e um jovem conversando:
- Me apaixonei nesta vida apenas uma vez - dizia o jovem.
- Pela sua esposa - Indagou o senhor - creio eu?
- Não, não. Na verdade foi uma paixão breve, tão breve quanto as chuvas de verão.

  Enquanto o ônibus aguardava o semáforo abrir, avistaram eles que teriam muito tempo para conversar, afinal, o trânsito após o cruzamento era longíquo.
  Continuava o jovem:
- Tudo começou quando eu estava perdido, aturdido. Era farra, cachaça e tudo mais o tempo todo, eu estava desiludido amorosamente e não queria compromisso sério. E ela, bem, ela ao meu ver de perito, também sentia-se assim, desiludida!
   O senhor prestava a máxima atenção ao causo do amigo, e por diversas vezes dava-lhe palpites. Interromperam a conversa para ajudar a uma senhora que não sabia onde descer, ela não conhecia a região. Assim que a mesma agradeceu, eles retomaram a conversa:
- Aonde paramos mesmo?
- Em que você também a achava desiludida com algo - retrucou o senhor.
- Isso! Conversa vai, conversa vem, uma paquerinha aqui, e um dia com uma leve brincadeira, no escuro de uma praça, dei-lhe o primeiro beijo. - Um suspiro saiu de suas vias nasais e ele continuou - Nunca me esquecerei aquele momento mágico, e que pensei ser o único, nuvens rodeavam meu ser com luzes incandescentes ao mesmo tempo que ouvia a melodia romântica dos anjos.
-E então, o que aconteceu depois? - Perguntou o senhor curioso.
-Depois - risos - vivemos uma breve história como lhe disse ao começo de nossa conversa. O que eu não sei é se era de amor ou de loucura, e até hoje me pergunto quanto a isso, porém, como tudo um dia tarde ou cedo acontece, demos um "tempo".
-Você conseguiu esquecê-la?
  Viu-se então seus olhos brilharem, e ele respondeu com um nó na garganta e uma voz suave:
-Não, e não sei se um dia serei capaz de tal proeza, mas a amei e creio ainda amá-la não importando-me com a distância, até pode ser pecado...mais, que posso eu fazer?
   Após o aceno de cabeça do senhor, mostrando que o estava entendendo, ele prosseguiu:
- Ela completou um enorme vazio que em mim existia naquela época, e que até hoje está cheio dessa luz, é a maior responsável por minhas transfigurações. Como poderia esquecê-la?
Uma breve pausa, seguido de mais um suspiro... a história chamava a atenção de outros passageiros, que pareciam querer ouvi-lo também, e ele sem muito se importar continuava:
- Escuto a sua voz dentro de mim, vejo seus olhos me perseguindo de canto, as vezes fingindo não me ver e até mesmo não me ouvir, sonho com aquele sorriso extraordinário. Enfim....
   Suspirou profundamente desta vez e percebeu que o seu ponto de desembarque se aproximava, despediu-se do amigo, apertou a campainha para sinalizar que desceria no próximo ponto e se foi com sua angústia!

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